A história de uma empresa geralmente tem início com o empreendedorismo de seus fundadores. Se olharmos para pouco tempo atrás, o termo empreendedorismo não era tão presente no cotidiano das pessoas, menor ainda era o estímulo ao empreendedorismo nas escolas de ensino médio e nas faculdades. E aí, quando virar a chave?!
Nesse contexto, obtive minha aprovação no vestibular em 2008 para o curso de Bacharelado em Física Médica na USP de Ribeirão Preto, com a expectativa de poder trabalhar em grandes empresas como Siemens, GE, Canon, entre outras.
Durante o curso, o objetivo de trabalhar nessas empresas me direcionou, por muitas vezes, para o lado comercial, à busca por oportunidades de ser um representante comercial.
Essa vontade de vender alguma coisa fez com que muitos dos meus colegas de faculdade me indicassem a procurar o professor Doutor Adilton Carneiro, do Grupo de Inovação em Instrumentação Médica e Ultrassom (GIIMUS), reconhecido, dentre outras qualidades, pelo seu entusiasmo ao empreendedorismo na faculdade. Todos diziam que eu teria muito o perfil do grupo para fazer uma iniciação científica por lá.
Mas eu ainda buscava por oportunidades que me levassem às chamadas grandes empresas. Foi quando um médico, sabendo da minha proximidade ao departamento de física da USP de Ribeirão Preto, pediu para que eu procurasse saber quem era o professor do departamento que estava trabalhando em uma pesquisa com simuladores para treinamento de procedimentos médicos. Não demorou muito para que eu chegasse no responsável pela pesquisa.
Adivinha o nome do grupo responsável por essa pesquisa? Isso mesmo, o GIIMUS.
Meu primeiro contato com o professor Adilton foi com o intuito de fazer uma ponte comercial, a pesquisa praticamente fornecia uma solução para os problemas que o médico enfrentava. Nesse momento foi onde a história da Gphantom começou a se desenhar.
O professor Adilton me explicou que a pesquisa era promissora, mas que os resultados ainda não permitiam considerar como um produto propriamente dito, seria necessário então desenvolver um plano de negócios.
O pesquisador que deu início a essa pesquisa, hoje professor, Dr. Silvio Vieira Leão, tinha seguido outros caminhos e o projeto caminhava a passos lentos. Sendo assim, dei início a minha iniciação científica, com o objetivo de aprimorar os resultados obtidos anteriormente e transformar aquela pesquisa em um produto comercializável.
Minha história
Minha motivação era viabilizar o quanto antes a geração de um produto para consolidar aquela ponte com o médico que disse precisar do produto, mas até o momento não havia nenhuma ideia de fundar uma empresa.
Assim, iniciei minha carreira acadêmica, na qual em três anos de minha iniciação científica busquei por melhorias em simuladores médicos. Esses simuladores são materiais que reproduzem uma ou mais característica do corpo humano e permitem aos estudantes associarem com suas práticas médicas, podendo ser extremamente simples, como uma boneca sendo utilizada para “simular” um paciente, por exemplo.
No entanto, a inovação da pesquisa estaria em utilizar diferentes materiais para simular propriedades físicas e químicas que possibilitassem o uso em equipamentos de diagnóstico por imagem como ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia e por raios X.
A cada novo aprimoramento no modelo, convidamos médicos e apresentávamos as melhorias, escutando quais características os modelos precisariam conter em uma futura comercialização. Indiretamente, estava fazendo com que os resultados da minha pesquisa se transformassem em uma grande validação do produto.
Foi quando, novamente estimulado pelo professor Adilton, eu e mais uma amiga, também aluna do GIIMUS na época, Michelle Ferreira Costa, bacharel em química pela USP de Ribeirão preto, procuramos a SUPERA para iniciar o desenvolvimento do modelo de negócios da Gphantom.
A busca de conhecimento sobre negócios
A partir do primeiro contato com a SUPERA, percebemos que precisaríamos virar a chave do modo acadêmico para o modo dos negócios. Nomenclaturas, a forma de escrever um documento, como compartilhar informações, tudo isso passava por uma alteração com relação ao relacionamento na academia.
A incubadora estava passando por um processo de mudança de endereço, com o então recém-inaugurado Parque Tecnológico. O processo seletivo para incubadora acelerou o processo da criação de um modelo de negócios, fomos apresentados ao CANVAS.
Paralelamente a isso, segui com a vida acadêmica, com o mestrado em andamento junto ao Programa de Física Aplicada à Medicina e Biologia (FAMB) do Departamento de Física de Ribeirão Preto. Um período de muito aprendizado e muita dedicação para conciliar o tempo e os prazos para conseguir atuar em duas linhas de frente.
Para apertar o tempo que já era escasso, com o apoio da equipe do NIT da SUPERA e do GIIMUS, conseguimos redigir e aprovar um projeto junto ao PIPE da FAPESP.
Pronto, tínhamos o ambiente perfeito para aplicar as inovações das nossas pesquisas diretamente junto ao mercado: o suporte da SUPERA em diversas áreas, o financiamento da FAPESP e o networking para sanar eventuais dúvidas junto ao programa FAMB.
A partir dos detalhes apresentados até aqui, fico orgulhoso de poder compartilhar histórias vividas ao longo de quase 8 anos, seja com os novos alunos, seja com empreendedores e empreendedoras do SUPERA PARQUE. Muita coisa mudou de lá pra cá, a Supera possui mais cursos de capacitação do que antes, o acesso à informação foi adiantado na universidade, iniciativas como a empresa júnior “Marie Curie”, na física médica de Ribeirão, ou ainda o “Núcleo de Empreendedores” da FEA RP, aproximam cada vez mais a universidade do mundo empresarial.
Mas muito se engana quem pensa que isso torna o caminho mais fácil.
A concorrência e a “exigência do mercado” mantém o caminho árduo que exige muita resiliência.
O excesso de informação exige a filtragem para que possa ser absorvido o necessário para o crescimento de ideias e seres humanos. Costumo dizer que atualmente é muito fácil confundir empreendedores com donos de empresa.
O empreendedorismo vai além do cobiçado CNPJ, significa, dentre outras coisas, contribuir de qualquer forma para a inovação, seja num estágio ou em uma simples conversa de corredor. Ser empreendedor é ter a oportunidade de corrigir os erros cometidos por empresas no passado e oferecer oportunidades iguais para todos, independente do gênero, raça, cor ou sexualidade.
O empreendedorismo pode ser a chave para uma mudança cultural que nosso país tanto precisa.
Não me arriscaria aqui nomear pessoas que fizeram parte dessa trajetória, mas essas pessoas com certeza sabem que contribuíram, desde o GIIMUS liderados pelo professor Adilton; passando pelo departamento de física, com professores e funcionários; a SUPERA, englobando funcionários e empreendedores(as) que formam uma espécie de família com o convívio diário; a FAPESP e amigos.
Atualmente, a Gphantom possui dois distribuidores internacionais, já exportou seus produtos para mais de 10 países diferentes e possui clientes em todos os estados brasileiros. Temos orgulho de ser uma empresa brasileira, com DNA USP, instalada em uma das melhores incubadoras de empresas do Brasil, a SUPERA.
Ainda temos um longo caminho pela frente, mas com a certeza de que temos bases sólidas, com ótima assessoria e muitos desafios que nos motivam a seguir em frente.
Este artigo foi escrito por Felipe Wilker Grillo, doutor em ciências pelo programa de Física Aplicada a Medicina e Biologia, fundador e CEO da Gphantom – Simuladores para treinamento médico.
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